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religiosidade popular II

“Associadas pelo imaginário colectivo às manifestações da religiosidade popular, as práticas devocionais eram transversais a toda a sociedade luso-brasileira durante o Antigo Regime, dando origem a uma grande quantidade e variedade de repertórios musicais, aos quais estavam associadas diferentes práticas de execução. A sua promoção pelas elites políticas e religiosas, nomeadamente pela própria monarquia no âmbito da rede de instituições da música sacra de corte, constituía por um lado um factor de distinção (através da mobilização dos melhores intérpretes como é o caso dos cantores italianos da Capela Real e do envolvimento dos principais compositores ligados à Coroa na produção de novas obras) e por outro um meio difusor e regulamentador de modelos rituais que aspiravam a propagar-se a todo o Reino."


"Funeral de uma negra", J. - B. DEBRET, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil.



"Constituindo celebrações paralitúrgicas eram plenamente aceitadas pelas autoridades religiosas e eram admitidas inclusive no contexto do rigor cerimonial da Capela Real e Patriarcal de Lisboa. Um dos aspectos mais interessantes das práticas devocionais prende-se com a sua dimensão participativa, incluindo a interacção directa e o diálogo da assistência com os músicos profissionais através da entoação de melodias facilmente memorizáveis e de passagens em cantochão. A comunicação e a participação era de tal modo crucial, que se trata do único repertório religioso da época a incorporar o português cantado em unidades funcionais circunscritas como as Jaculatórias. Não obstante a existência de várias fontes escritas que documentam com considerável detalhe essas práticas, este é um repertório que se cruza também com a tradição oral e que envolve crenças individuais e colectivas, transferências culturais e fortes laços de sociabilidade.”








FERNANDES, Cristina. As práticas Devocionais Luso-Brasileiras no Final do Antigo Regime: o Repertório Musical das Novenas, Trezenas e Setenários na Capela Real e Patriarcal de Lisboa. Revista Música Hodie, Goiânia, V.14, n.2, 2014, p.213-231.

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